terça-feira, 14 de janeiro de 2025

 

O macaco e o tubarão Conto tradicional de Moçambique

O macaco vivia perto do mar e passava horas de olhos postos nas águas, maravilhado por apresentarem vários tons de azul ao longo do dia e encantado com o vaivém das ondas, que deixavam tiras de espuma branca sobre a praia. Em tempos, esforçara-se por aprender a nadar, mas como não conseguiu, desistiu.

– Se eu ao menos pudesse navegar – suspirava sempre que passavam navios.

– Ah! Se eu ao menos pudesse navegar!

Um tubarão que frequentava aquelas paragens ouviu e resolveu aproveitar-se daquele desejo. Fingindo-se muito amigo e muito simpático, aproximou-se e meteu conversa:

– Parece que gostavas de dar um passeio à tona de água, não é?

– É o meu sonho, mas não tenho quem me leve.

– Eu levo-te com todo o gosto.

– A sério?

– Mais sério não posso ser. Se quiseres, sobe agora mesmo para as minhas costas, agarra-te à minha barbatana, e o teu sonho torna-se realidade.

O macaco ficou contentíssimo e saltou da palmeira para o dorso do tubarão. De início, viajaram perto da praia, mas o macaco estava tão entusiasmado com o passeio que não se cansava de pedir:

– Mais longe, amigo tubarão! Leva-me mais longe!

– Queres ir para o alto mar?

– Quero, por favor!

O tubarão disfarçou um sorriso maldoso e fez-lhe a vontade. Mais adiante, perguntou:

– Que tal, amigo macaco? Estás a gostar do passeio?

– Muito, muitíssimo. Acho que é o dia mais feliz da minha vida.

– Ainda bem. Porque eu tenho um problema difícil de resolver e vou resolvê-lo hoje.

– Que problema?

– O meu pai está muito doente no fundo do mar e o curandeiro disse que ele só melhorava se comesse um coração de macaco...

Ao ouvir aquilo, o pobre macaco ia morrendo de susto, mas como era muito inteligente, resolveu controlar-se e fingir que colaborava.

– Tenho muito gosto em te dar o meu coração para salvares o teu pai. Há-de fazer-lhe bem, porque é a parte mais saborosa do meu corpo.

– Ai sim?

– Sim. Mas se queres o meu coração, temos que ir buscá-lo a casa.

– Estás a falar verdade? – perguntou o tubarão, já desconfiado.

– Claro que estou. Tu se calhar não sabes que a minha espécie não usa o coração dentro do peito.

– Ai não?

– Não. Deixamos sempre o coração em casa. Se me levares de volta, vou buscá-lo num instante e o teu pai come o melhor petisco deste mundo.

O tubarão, que era gulosíssimo, acreditou e levou-o à praia. Assim que pôs o pé na areia, o macaco fugiu aos saltos e nunca mais apareceu. Há quem diga que o tubarão ainda hoje ronda aquela praia, na esperança de comer um coração de macaco.

 

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