O macaco e o
tubarão Conto tradicional de Moçambique
O macaco vivia perto do mar e passava horas de
olhos postos nas águas, maravilhado por apresentarem vários tons de azul ao
longo do dia e encantado com o vaivém das ondas, que deixavam tiras de espuma
branca sobre a praia. Em tempos, esforçara-se por aprender a nadar, mas como
não conseguiu, desistiu.
– Se eu ao menos pudesse navegar – suspirava
sempre que passavam navios.
– Ah! Se eu ao menos pudesse navegar!
Um tubarão que frequentava aquelas paragens ouviu
e resolveu aproveitar-se daquele desejo. Fingindo-se muito amigo e muito
simpático, aproximou-se e meteu conversa:
– Parece que gostavas de dar um passeio à tona de
água, não é?
– É o meu sonho, mas não tenho quem me leve.
– Eu levo-te com todo o gosto.
– A sério?
– Mais sério não posso ser. Se quiseres, sobe
agora mesmo para as minhas costas, agarra-te à minha barbatana, e o teu sonho
torna-se realidade.
O macaco ficou contentíssimo e saltou da palmeira
para o dorso do tubarão. De início, viajaram perto da praia, mas o macaco
estava tão entusiasmado com o passeio que não se cansava de pedir:
– Mais longe, amigo tubarão! Leva-me mais longe!
– Queres ir para o alto mar?
– Quero, por favor!
O tubarão disfarçou um sorriso maldoso e fez-lhe
a vontade. Mais adiante, perguntou:
– Que tal, amigo macaco? Estás a gostar do
passeio?
– Muito, muitíssimo. Acho que é o dia mais feliz
da minha vida.
– Ainda bem. Porque eu tenho um problema difícil
de resolver e vou resolvê-lo hoje.
– Que problema?
– O meu pai está muito doente no fundo do mar e o
curandeiro disse que ele só melhorava se comesse um coração de macaco...
Ao ouvir aquilo, o pobre macaco ia morrendo de
susto, mas como era muito inteligente, resolveu controlar-se e fingir que
colaborava.
– Tenho muito gosto em te dar o meu coração para
salvares o teu pai. Há-de fazer-lhe bem, porque é a parte mais saborosa do meu
corpo.
– Ai sim?
– Sim. Mas se queres o meu coração, temos que ir
buscá-lo a casa.
– Estás a falar verdade? – perguntou o tubarão,
já desconfiado.
– Claro que estou. Tu se calhar não sabes que a
minha espécie não usa o coração dentro do peito.
– Ai não?
– Não. Deixamos sempre o coração em casa. Se me
levares de volta, vou buscá-lo num instante e o teu pai come o melhor petisco
deste mundo.
O tubarão, que era gulosíssimo, acreditou e
levou-o à praia. Assim que pôs o pé na areia, o macaco fugiu aos saltos e nunca
mais apareceu. Há quem diga que o tubarão ainda hoje ronda aquela praia, na
esperança de comer um coração de macaco.